Foto Roque de Sá/ Agência Senado
Jaques Wagner
O mundo pós-pandemia tem acelerado investimentos como forma de compensar um dos momentos mais dramáticos da história da humanidade. A Covid-19 ceifou milhões de vidas, destruiu lares e famílias, dizimou empregos e paralisou a economia mundial. A retomada do ciclo de crescimento não acontece sem dor e exige cautela. Sobretudo, porque, cada vez mais, cresce a consciência de que os recursos naturais são finitos e não podemos mais nos dar ao luxo de explorar a natureza à exaustão, inconsequentemente, como nos ciclos de desenvolvimento anteriores.
Nesse contexto, fiquei muito feliz e, ao mesmo tempo, ciente da enorme responsabilidade de ser o relator do PL 1874/2022, que trata da Economia Circular. Como integrante da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo, entendo que a aprovação desse projeto poderá colocar nosso país em outro estágio de desenvolvimento e de diálogo com as principais economias globais. O Brasil sempre foi referência no debate ambiental. Conciliamos o agronegócio com uma extensa rede de agricultores familiares que abastecem as nossas mesas diuturnamente. Temos uma das matrizes energéticas mais limpas do planeta, além de dezenas de projetos apoiados pela Frente, tudo para buscar alternativas cada vez mais sustentáveis.
Os efeitos não demoraram a ser sentidos. Com a atuação incisiva do governo federal e do presidente Lula, retomamos o protagonismo no debate global e vamos sediar a COP-30, em 2025, em Belém. Receberemos as principais lideranças mundiais para elas constatarem, in loco, que estamos crescendo com inclusão e respeito ao meio ambiente. O PL da Economia Circular traz todos esses pontos, pois aborda uma área estratégica para a retomada do crescimento com mais sustentabilidade. É necessário romper com o modelo linear de extração-produção-consumo-descarte, até porque já tomamos diversas decisões equivocadas no passado recente.
Nas últimas cinco décadas, a população mundial dobrou, a extração de materiais triplicou e o Produto Interno Bruto (PIB) quadruplicou. Em termos de volume, ao redor de 65 bilhões de toneladas de matérias-primas entraram no sistema econômico em 2010. Estima-se que esse número chegou perto de 82 bilhões de toneladas em 2020. A extração e o processamento de recursos naturais foram acelerados nas últimas duas décadas e são responsáveis por mais de 90% de nossa perda de biodiversidade, estresse hídrico e quase metade dos impactos relacionados às mudanças climáticas.
O princípio dessa proposta é criar uma política para reaproveitar os insumos, dando a eles uma nova destinação, mantendo a roda da economia girando sem exaurir os recursos naturais e criando novas oportunidades de trabalho e renda. Resíduos de um bem antigo tornam-se o alimento para um novo produto. A criação de sistemas de reparo, reúso e remanufatura, além de uma reciclagem efetiva, permite que matérias-primas introduzidas em cadeias de produção mantenham seu valor, ou até mesmo o aumentem.
Trata-se de uma ação estratégica para o Brasil, por atuar nos três pilares do desenvolvimento sustentável. No eixo ambiental, o caráter regenerador assegura bases sustentáveis ao nosso desenvolvimento. Nas dimensões social e econômica, há grande potencial para gerar emprego e aumentar a renda, bem como para fortalecer e renovar a indústria, setor essencial para um crescimento de longo prazo.
Por isso, a economia circular não deve ser considerada mera questão legislativa. É uma mudança de paradigma do pensamento coletivo. O setor empresarial passa a ter mais responsabilidades nesse sistema. O Poder Público deve conscientizar a sociedade e guiá-la para a utilização do potencial de vida útil dos produtos. Quanto aos consumidores, esse projeto viabiliza uma política de priorização do reparo e reúso de produtos em vez da substituição. Defender a Economia Circular é, portanto, estimular um conceito moderno, que combate o desperdício em grande escala e pode contribuir de forma efetiva para o objetivo do nosso governo de promover crescimento com sustentabilidade. Este é o nosso compromisso.
O Brasil carrega em seu espírito a mentalidade da preservação ambiental. Mas as nossas carências de desenvolvimento nos obrigam a pensar políticas de crescimento com inclusão social e produtiva. Investir na economia circular é apostar em competitividade com responsabilidade ambiental. Um discurso completamente alinhado com a tradição do Brasil e o caminho que devemos trilhar para escrever um novo capítulo na história deste país. E assim o faremos.
Jaques Wagner (PT-BA) é senador, líder do governo e integrante da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo
Leia o artigo em: https://www.cartacapital.com.br/opiniao/economia-circular/
Comments